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Jose Nelson Freitas Farias: “A longa noite ou o pergaminho flamejante”

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"Cada um estava aonde a mente tinha levado, o silêncio que cobria aquele mundinho, cortava a pele"

O Escritor Jose Nelson Freitas Farias nos brinda com um trecho do seu livro, O Segredo do Caminho – O Chamado.

Nossa vida é um canteiro de surpresas, podemos colher flores e espinhos. Precisamos aprender a agir para não machucar a flor e não nos ferirmos nos espinhos. A lua e o luar tomavam conta além de onde podiam ver, céu salpicado de estrelas e o vento Leste assobiava nas folhas e trazia um conforto como sentiram poucas vezes. Parece que o mundo havia parado e somente eles se sentiram vivos. Leo colheu alguns gravetos para uma fogueira e Anahi e alguns guerreiros foram em busca de alguma caça para o jantar!  

Jose Nelson Freitas - Foto: @maju.fac

Jose Nelson Freitas – Foto: @maju.fac

Yakecan estendeu a túnica no chão e pegou o pergaminho. Aquele objeto esquentou sua mão. Como água escorrendo pelo braço, o calor tomou conta de todo seu corpo e ao chegar aos pés, sentiu seu corpo faiscar sem ver nem sentir as fagulhas. Apertou o pergaminho com as duas mãos. Sentiu que, agora, os dois estabeleceram uma conexão. Era como se o pergaminho cochichasse, nos seus ouvidos, histórias antigas, que o fariam entender o porquê de estarem ali. 

Sentado de pernas cruzadas, soltou a fita devagar e no mesmo compasso, abriu por completo o pergaminho. Por um instante ficou admirando aqueles desenhos que pareciam cordilheiras ao Norte, que dominavam parte do caminho, como a protegê-lo, desertos ao Sul, vales, rios caudalosos e cruzando um dos círculos, um grande rio de fogo.  

Absorto em seus pensamentos não se deu conta quando o pergaminho começou a iluminar o caminho, como um risco de fogo e a dar forma às montanhas, aos rios, ao vento do deserto, ao rio de fogo. Foi somente quando os sete portais começaram a expelir fogo, como uma pequena fogueira, soltando fagulhas que tocaram seus braços, foi que se deu conta do que estava vendo. Se assustou, saiu se arrastando e deu um pulo para trás: o caminho traçado pelo Mago parecia um rio de luz, cruzando sete bolas de fogo. As cordilheiras se movimentavam, assim como os rios e o vento que balançava as arvores, tudo tinha vida. Tudo era real e nas mesmas proporções do real. No salto, o pergaminho voltou a se enrolar e as luzes se apagaram.  

Leo que estava a alguns metros de distância veio correndo com a espada em punho, mas quando viu o rosto assustado de Yakecan, apontando para o pergaminho enrolado, caiu em uma estrondosa gargalhada!  

Em poucos minutos Anahi apareceu com a caça em uma mão e a espada na outra. Parou de repente quando viu que os dois estavam rindo e brincando com o pergaminho, com a ponta das espadas! 

Pelo rosto de Anahi, ela não achou graça nenhuma na brincadeira! Com passos largos e rosto em riste desceu até o córrego, onde preparou a caça para assar na fogueira!  

Depois do jantar de carne, pão e vinho, sentaram os três e abriram o pergaminho para planejar o dia seguinte. 

Jose Nelson Freitas – Foto: @maju.fac

Somente quando Yakecan abriu totalmente o pergaminho foi que Anahi entendeu a surpresa e a risada dos dois!  

Ela ficou admirada com as luzes vermelha-sangue que marcavam o caminho a seguir e a cor azul que marcava o caminho já percorrido e, as bolas de fogo que marcavam os sete portais! Os três ficaram em silêncio admirando o pergaminho iluminado por um bom tempo!  

Enquanto os três estavam sentados conversando, os guerreiros se mantiveram curiosos, mas à distância, intrigados com o que viam. Nenhum deles ousou chegar mais perto. Para eles aquele pergaminho era magia.   

Jose Nelson Freitas – Foto: @maju.fac

Para eles, aquilo só podia ser magia. Como o fogo não queimava o pergaminho? Yakecan ficou um tempo pensativo, lembrando as queimadas na floresta quando um raio caia nas folhas secas ou quando alguma fagulha da fogueira que faziam em frente a taba, para aquecer, saia voando como um beija-flor e caia em alguma touceira de folhas secas e tudo pegava fogo rapidamente.  

Deitados, de papo pro ar com a cabeça sobre os braços cruzados na nunca, sobre o capim seco que cobria boa parte do vale e na proteção daquelas arvores que nem um pouco pareciam com as da sua terra, ficaram observando o céu. Não estavam dando nomes e nem contado estrelas. Cada um estava aonde a mente tinha levado. O silêncio que cobria aquele mundinho, cortava a pele. Só se ouvia o vento sussurrando delicadamente como se não quisesse despertar a vida. 

Para conhecer mais sobre o Escritor segue as redes sociais.

Instagram: @freitasfariasescritor

 

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